Flower

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20 de março de 2012

"Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, irriquieta na minha comodidade. Pinto a realidade com alguns sonhos, enxerto sonhos em cenas reais. Choro lágrimas de rir e quando choro para valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto. Mas não me leve à sério, sei que nada é definitivo. Nem eu ou o que penso que eu sou. Nem nós ou que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol. Trabalho sem salário e não entendo de economizar. Nem energia. Me esbanjo até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho.
Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços. Mas faço simpatias, rezo para algum anjo de plantão e mascaro minha fé no deus do otimismo. Quando é impossível, debocho. Quando é permitido, duvido. Bebo porque só eu me entendo sóbria, fumo para enganar a ansiedade e não aposto em jogo de cartas marcadas. Vezes como muito, vezes vivo dos meus pensamentos que não são poucos. Embora surpreendente, e tavez duvidoso para muitos, penso mais do que falo. E falo muito, geralmente no jantar. Nem sempre o que se quer saber. Eu sei.
Gosto de cara lavada – exceto por um traço preto no olhar, cílios alongados – pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatoo nas costas. Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.
Gosto de verde - e tudo que é verde - flores: lírios, céu: estrelado,...horas havainas, horas salto alto, nenhum dos dois disfarça quem eu realmente sou, porque minha autenticidade não permite. 
Tenho paixão por música, e tenho certeza de que já vi Beatles tocar. - ao vivo. Dançando me entrego á um mundo, onde só eu existo, e onde tudo que eu desejo é permitido, onde tudo que eu amo, eu posso ter. - ao contrário da realidade, que muitas vezes é melancólica e nostalgica - mas isso também faz parte de mim. 
Sorrio muito, e a minha seriedade é pra poucos. - talvez porque nela reside uma sinceridade sem tamanho, muitas vezes cruel. - e o que eu sou de verdade, só interessa a esses poucos. 
Meu sorriso é meu cartão de visitas, mas isso não signfica eu esteja sempre disposta a negociar - no máximo te desejar um "bom dia..."
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez. E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana....Se você me assalta, eu reajo."
Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar..... Clarice Lispector

Foto: Ana Monteiro

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